LEGADO

Histórias de vida e de jornalismo marcam os 65 anos do Correio Braziliense

O Correio Braziliense completa 65 anos e, desde então, participa da vida da cidade. A Redação do jornal preserva o legado de grandes profissionais e reforça o compromisso com novas gerações

Foto clássica de Glauber Rocha na antiga redação do Correio  -  (crédito: Arquivo CB/CB/D.A Press)
Foto clássica de Glauber Rocha na antiga redação do Correio - (crédito: Arquivo CB/CB/D.A Press)

Quando Brasília foi inaugurada, 65 anos atrás, havia apenas o desejo inquieto de Juscelino Kubitschek em tornar esse lugar uma referência para todo o país. Isso, claro, tanto do ponto de vista modernista quanto arquitetônico. O que ele não sabia era que, com o nascimento da cidade, novos frutos apareceriam dessa terra. Além das belezas erguidas com concreto, como a Catedral e o Museu Nacional, existe aqui outro patrimônio, sinônimo de resistência e de esperança: o Correio Braziliense

Em 21 de Abril de 1960, Brasília nasciam e o Correio Braziliense. Idealizado por Assis Chateaubriand, fundador do grupo Diários Associados, o nome do veículo é uma homenagem ao jornal mensal criado pelo jornalista Hipólito José da Costa, que existiu entre os anos de 1808 e 1822. 

Assim, do sonho de Hipólito, veio a realização de Chateaubriand, que construiu um verdadeiro império da comunicação, com diversos jornais e emissoras de rádio e televisão integrando o grupo do Diário dos Associados. Um deles, o Correio Braziliense, referência na cidade pelo compromisso com a notícia, coberturas robustas e memórias acumuladas nesses anos todos. Neste veículo existe a certeza de que o bom jornalismo nunca morre, muito menos os responsáveis por tornarem esse lugar tão fundamental para Brasília. 

Figuras ilustres do jornalismo nacional aram pela redação, como o cineasta/jornalista Glauber Rocha. Era responsável por escrever artigos políticos para o jornal, entre os anos de 1977 e 1979. Millôr Fernandes, um dos mais importantes cronistas do Brasil, foi colunista do jornal em 1996. Vários são os nomes que fizeram do Correio o que ele é hoje, incluindo aqueles que chegaram e permaneceram, tanto os mais velhos quanto os novos, em um belíssimo encontro de gerações.

  • Foto clássica de Glauber Rocha na antiga redação do Correio
    Foto clássica de Glauber Rocha na antiga redação do Correio Arquivo CB/CB/D.A Press
  • Crédito: J. França/CB/D.A Press. Brasil. Brasí­lia - DF. Divulgação do semanário carioca Enfim. Cineasta e jornalista Glauber Rocha, na Redação do Correio Braziliense em setembro de 1979.
    Crédito: J. França/CB/D.A Press. Brasil. Brasí­lia - DF. Divulgação do semanário carioca Enfim. Cineasta e jornalista Glauber Rocha, na Redação do Correio Braziliense em setembro de 1979. J. França/CB/D.A Press
  • Fevereiro de 1982. Crédito: Arquivo CB/ Reprodução. Jornalista Cora Rónai na Redação do Correio Braziliense. CB, 16/02/1982.
    Fevereiro de 1982. Crédito: Arquivo CB/ Reprodução. Jornalista Cora Rónai na Redação do Correio Braziliense. CB, 16/02/1982. Arquivo CB/ Reprodução
  • Millôr Fernandes foi colunista do jornal em 1996
    Millôr Fernandes foi colunista do jornal em 1996 Arquivo/Cedoc
  • Na foto, à direita, uma das lendas do Correio, a jornalista Liana Sabo
    Na foto, à direita, uma das lendas do Correio, a jornalista Liana Sabo Arquivo/ Cedoc

"O Correio sou eu"

Uma dessas histórias que se misturam com a trajetória do jornal, é a da jornalista Liana Sabo, colunista de gastronomia. Com 57 anos de casa, ela participou de coberturas que marcaram a história, principalmente política de Brasília. Desde a morte de Juscelino Kubitschek até a posse de José Sarney, Liana esteve lá. "O Correio sou eu. Dei minha vida, minha mocidade, tudo. Cheguei aqui menina, vindo do Rio Grande do Sul. Estive nos Estados Unidos e conversei com o presidente Richard Nixon, cobri guerras pelos corredores de Brasília. Fiz de tudo no jornalismo", relembra. 

Liana não somente escreveu sobre histórias, como também se tornou uma. Depois de ser repórter geral, produzir matérias sobre a Presidência da República e inúmeras outras, foi escolhida para um desafio entre os muitos que teve de superar: falar sobre mulheres. "Um editor do Correio na época veio até mim e me disse que faríamos uma espécie de suplemento feminino para o jornal", conta. De início, Liana não sabia o que fazer.

Afinal, estava acostumada com os assuntos voltados para a política. De acordo com ela, não sabia o que mulheres gostavam de ler, de fazer, de experimentar. Teve que mergulhar nesse que era, para Liana, um mundo cheio de possibilidades. Leu revistas, estudou sobre temas e resolveu tentar — assim como sempre tentou. No projeto, intitulado de 'Mulher', a jornalista escrevia sobre moda, maquiagem, artesanato e feminismo. Neste espaço, começou também a produzir reportagens sobre gastronomia. Liana ia para os restaurantes, fazia fotos dos pratos e contava as histórias por trás dos estabelecimentos. 

Na cidade, esse ecossistema era pouco explorado. Aquela repórter que começou em política resolveu revolucionar o que antes nem era cogitado para existir. Se hoje existem blogs de culinária, cursos de gastronomia em Brasília, acredite: é graças a Liana Sabo. "Posso dizer que criei o jornalismo gastronômico aqui", finaliza. Há quase duas décadas ela assina a coluna Favas Contadas e o blog de gastronomia do Correio. Desde então, esse tem sido o seu lugar.

  • Severino Francisco, Liana Sabo e Irlam Rocha Lima: dedicação ao jornalismo e a Brasília
    Severino Francisco, Liana Sabo e Irlam Rocha Lima: dedicação ao jornalismo e a Brasília Bruna Gaston/CB/D.A Press
  •  11/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Antiga Geração Correio Braziliense
    11/04/2025 Bruna Gaston CB/DA Press. Antiga Geração Correio Braziliense Bruna Gaston CB/DA Press

Duas lendas

Imagine conhecer Cazuza, jogar futebol com Chico Buarque e ser amigo de Gilberto Gil. Irlam Rocha Lima, prestes a fazer 50 anos de Correio, sabe como ninguém o valor de boas histórias. "Entrevistei Renato Russo, tomei uma cerveja com o Dominguinhos. Esse jornal é a extensão do que eu sou. Vim do nada, lá da Bahia. Comecei no esporte e agora estou aqui (em Cultura). Trabalhar nesse jornal é o maior prazer da minha vida", afirma Irlam.

E olha, do alto de suas oito décadas de vida, o vigor permanece o mesmo. O caminhar ainda acelerado é uma provocação ao tempo: "Só vou parar quando não der mais", brinca o jornalista. Todos os dias, o olhar atento em frente ao computador permanece o mesmo. As matérias de música e arte continuam com a mesma paixão que vem com ele desde o começo. Irlam está à frente da coluna Sons da Noite e do blog Trilha Sonora, mas não gosta de se chamar de colunista. "Serei repórter até o fim. O resto, bem, é consequência".

De lendas jornalísticas, apaixonadas pela cidade, o Correio tem uma grande lista. Cronista do jornal desde 2005, Severino Francisco é um amante da palavra. Literatura, arte e filosofia foram os combustíveis para que ele chegasse ao cargo que ocupa hoje, como subeditor da Editoria de Cultura. No entanto, não se engane, essa ocupação está longe de ser, realmente, um ofício. Foi, na verdade, a maneira que ele encontrou de canalizar tanta inquietação. 

"Nunca pensei em ser jornalista. Minha relação sempre esteve entre a leitura e a escrita", destaca. Severino começou no Correio em 1980 e estendeu sua agem até 1990. Mal sabia ele que, 15 anos depois, retornaria. "Vivi mais tempo na rua e no Correio do que em qualquer outro lugar. Vivo esse jornal, todos os dias é uma luta e um leão. Mas nunca me canso, tenho energia de sobra", completa. Severino conheceu Athos Bulcão e até tomou um porre com Vinicius de Moraes. Sua grande paixão é Brasília. Essa cidade é a sua casa. 

Futuro do Correio

Como um bom jornal, as histórias nunca param de ser contadas. Por isso que uma nova geração é tão importante, para continuar caminhando pelas estradas construídas por Liana, Irlam e Severino. Desde pequena Giovanna Sfalsin, 20, se considera comunicativa e curiosa. "Queria entender o porquê das coisas, ouvir histórias e compartilhar tudo que aprendia. Sempre gostei de ajudar as pessoas e, de alguma forma, sempre vi na comunicação uma ponte para isso", ressalta. Estagiária da Editoria de Cidades desde o ano ado, descobriu no jornalismo uma maneira de se conectar com as pessoas.

"Estar no Correio tem sido uma experiência marcante. É uma escola, sem dúvida. E trabalhar na editoria de Cidades torna tudo ainda mais especial, porque é onde o jornalismo ganha rosto, nome e emoção. A gente fala com gente real e conta histórias que muitas vezes am despercebidas", descreve. Daqui para frente, ela espera ganhar cada vez mais conexões graças ao jornalismo, levando uma comunicação sensível e responsável. 

Viver coisas diferentes e conhecer pessoas é o que motivou Emanuely Araújo Santos, 20, a cursar jornalismo. Em um jornal tão tradicional, ela traz ao mundo digital uma nova era para o Correio, sendo uma jovem promissora na Editoria de Multimídia. "Quando era pequena, meu pai comprava o Correio e pegava a seção de política. Eu ficava com a de diversão e arte. E hoje em dia ler uma matéria que eu escrevi ou participei, além de ser super legal, é algo que eu acredito que só o Correio poderia me proporcionar", enfatiza. 

  •  11/04/2025. Guilherme Felix CB/DA Press. Estagiarios do Correio Braziliense.
    11/04/2025. Guilherme Felix CB/DA Press. Estagiarios do Correio Braziliense. Guilherme Felix CB/DA Press
  •  11/04/2025. Guilherme Felix CB/DA Press. Estagiarios do Correio Braziliense.
    11/04/2025. Guilherme Felix CB/DA Press. Estagiarios do Correio Braziliense. Guilherme Felix CB/DA Press

Sonhos dessa geração

Quando mais novo, Arthur Ribeiro, 24, gostava de se aventurar na escola ao tentar escrever poemas. "Lembro de falar aos meus pais que queria escrever um livro, inspirado nos que eu lia quando garoto", conta. Dessa forma, começou a trabalhar com as palavras. Aficcionado por esportes, o jovem não é daqueles que só fala de futebol. Se quiser saber sobre basquete, Fórmula 1 e futebol americano, ele é uma enciclopédia viva. 

"O Correio foi a minha principal escola de jornalismo. ei seis meses como estagiário de Cidades e hoje estou perto de completar dois anos na Editoria de Esportes. Aqui aprendi todas as ferramentas para ser um jornalista, desde a ética, a qualidade na escrita, a apuração, saber ouvir e conseguir superar a timidez", revela. 

Como jornalista esportivo, pôde realizar muitos dos meus sonhos de infância, estando em eventos que ele somente imaginava. Cobrir eventos que só via na televisão, como Fórmula 1, Libertadores, Copa do Brasil, NFL, basquete, tênis. "Me sinto realizado, ainda mais por poder escrever sobre aquilo que amo. É uma oportunidade, aproveito ao máximo a cada dia", ressalta.

Mesmo aos 19 anos, Maria Luísa Magalhães carrega de berço um amor inexplicável por filmes e livros. Tanto afeto a fez considerar, em algum momento, cursar em áreas como cinema e literatura. Até o momento em que ela percebeu que, na verdade, gostava mais de falar sobre esses temas do que produzi-los.  "Me encontrei no curso de jornalismo e hoje não me imagino fazendo outra coisa. Gosto das aulas, dos trabalhos e da profissão, tudo me reforça diariamente que é o que nasci para fazer", comenta a jovem. 

A experiência no jornal, que começou no ano ado, tem sido maravilhosa. Estagiar em Cultura é estar onde ela sempre quis, escrevendo sobre assuntos dos quais um dia imaginou, mas que não achou que aconteceria — pelo menos não tão rápido. Vivenciar a redação e estar com grandes colegas de profissão faz ela ter aquela sensação de pertencimento, de que encontrou a sua praia. Daqui pra frente, exercer essa vocação será a causa de sua vida. 

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

"Trabalhar no Correio Braziliense é muito significativo. Mais que um nome no currículo, tudo depende de como a pessoa se porta no estágio para elevar a experiência e realmente aprender algo que vai ficar com você durante toda sua carreira. Tento dar o meu máximo aqui, e acredito que o portfólio que construí e os aprendizados que adquiri aqui me tornam uma profissional cada vez melhor e mais preparada para trabalhar em uma redação", finaliza. 

postado em 21/04/2025 04:00
x