RELAÇÕES INTERNACIONAIS

'Sobrecarga emocional': a resposta da Rússia a Trump depois que o presidente dos EUA chamou Putin de 'louco'

Moscou respondeu diplomaticamente as críticas de Donald Trump contra Putin e culpou Ucrânia de provocar ataques aéreos

O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, acusou a Ucrânia de provocar os recentes ataques russos  -  (crédito: Getty Images)
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, acusou a Ucrânia de provocar os recentes ataques russos - (crédito: Getty Images)

O governo da Rússia respondeu aos comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou Vladimir Putin de "completamente louco"" por continuar os ataques contra a Ucrânia.

"O que diabos aconteceu com ele? Está matando um monte de gente", disse Trump, no domingo (25/05), a um grupo de jornalistas em Nova Jersey. Logo depois, nas redes sociais, ele classificou Putin como "completamente louco".

Trump deixou claro que sua paciência com o líder russo estava acabando ao declarar que "sempre tive uma boa relação com Vladimir Putin, mas algo aconteceu".

No entanto, o Kremlin tomou uma postura mais diplomática durante uma coletiva de imprensa, segundo o editor de assuntos russos da BBC em Moscou, Steve Rosenberg.

Por meio do porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, o governo russo agradeceu a Trump pelo seu trabalho em fomentar as negociações com a Ucrânia, e declarou que há uma "sobrecarga emocional de todos os envolvidos".

"Claro, o início do processo de negociação, pelo qual a parte americana fez grande esforço, é uma conquista muito importante e estamos realmente agradecidos aos Estados Unidos e, pessoalmente, ao presidente Trump por sua ajuda na organização e no lançamento desse processo de negociação", disse o porta-voz.

"É uma conquista muito importante. Ao mesmo tempo, claro, este é um momento muito importante que está ligado a uma sobrecarga emocional de todos os envolvidos e a reações emocionais."

Dmitry Peskov é um homem branco, com bigode e cabelos grandes. Ele usa um terno preto, gravata vermelha e blusa branca
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O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, acusou a Ucrânia de provocar os recentes ataques russos

Peskov também aproveitou para culpar Kiev de provocar os mais recentes e contundentes bombardeiros aéreos russos contra a Ucrânia.

"Monitoramos cuidadosamente todas as reações. Contudo, o presidente Putin toma as decisões que são necessárias para a segurança do nosso país", disse.

Deu como exemplo a suposta ameaça feita pela Ucrânia contra líderes estrangeiros que planejavam ir a Moscou para comemorar o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.

"Muitos líderes que estiveram aqui foram testemunhas das tentativas do regime de Kiev de atacar o território russo com drones, grandes cidades, incluindo a capital, às vésperas de um dia tão importante."

Dmitry Peskov garantiu que essas tentativas continuam e que as medidas ordenadas pelo presidente Putin são necessárias para que haja segurança na Rússia.

Casas destruídas por bombardeios em Kiev. Duas pessoas do Corpo de Bombeiros caminham pela rua
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Ucrânia acusou a Rússia de lançar um número recorde de drones em uma única noite

No domingo, a Rússia lançou 355 drones e nove mísseis contra a Ucrânia. Foi um número sem precedentes de drones lançados em uma só noite, segundo a força aérea ucraniana.

Por sua vez, a Rússia afirmou ter interceptado 96 drones ucranianos lançados durante a noite sobre 12 regiões, incluindo seis sobre Moscou.

"Vimos como os ucranianos têm atingido nossa infraestrutura social, infraestrutura pacífica", disse Peskov, indicando que o ataque russo foi uma represália. "É um ataque contra instalações militares, alvos militares", concluiu.

A origem das diferenças entre Trump e Putin

Trump prometeu em sua campanha eleitoral que daria fim à guerra entre Rússia e Ucrânia "em 24 horas", mas, mais de quatro meses se aram desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos e ele não foi capaz de cumprir sua promessa, o que parece estar aumentando sua frustração.

Em fevereiro, durante um encontro na Sala Oval, Trump repreendeu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diante das câmeras, por considerar que faltava colaboração dele nas conversas de paz com Moscou, impulsionadas por Washington.

Agora, sua raiva parece ter se voltado para Putin, que intensificou os ataques russos contra o território ucraniano, em um momento que afasta qualquer perspectiva de paz.

Trump foi muito crítico no ado ao apoio militar e ao envio de armas dos Estados Unidos à Ucrânia durante a presidência de Joe Biden. Com sua volta à Casa Branca, esse apoio a Kiev foi posto em dúvida.

Mas, à medida que Moscou dava sinais de não estar disposta a moderar suas pretensões territoriais na Ucrânia, e nem a frear a intensidade de suas operações militares, Putin ou a se colocar como um problema para Trump.

O presidente dos Estados Unidos já advertiu que poderia impor sanções à Rússia se não cessasse seus ataques contra alvos civis ucranianos. No domingo, ele repetiu essa ameaça.

BBC
BBC Geral
postado em 26/05/2025 17:41 / atualizado em 26/05/2025 21:53
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