
Nos cinco discursos oficiais que realizou, na França, nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfatizou o desejo de ter o país europeu como um aliado nas discussões sobre o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). O petista defendeu o agronegócio brasileiro, que voltou a ter a certificação de país livre de febre aftosa, e reiterou várias vezes ao presidente da França, Emmanuel Macron, o pedido de apoio ao acordo bilateral.
"Eu disse ao presidente Macron, se nós colocarmos os agricultores ses junto com os brasileiros, vão ter uma descoberta extraordinária. Eles vão descobrir que a nossa agricultura é complementar, uma não prejudica a outra. Ora, por que que eu não posso comprar um franguinho francês? E por que os ses não podem comprar um franguinho brasileiro? Afinal de contas, comércio binacional é uma via de duas mãos. Eu compro e vendo. Eu exijo qualidade, mas eu ofereço qualidade", disse Lula, em pronunciamento após realizar reunião com empresários ses, em Paris.
Idealizado há mais de 25 anos, o acordo Mercosul-UE projeta redução ou até a eliminação das tarifas de importações de produtos exportados por países dos dois blocos. A proposta, anunciada oficialmente no fim do ano ado, ainda precisa ser aprovada por parlamentos de países-membros da comunidade europeia. Algumas nações, como a França, oferecem resistência à aprovação de um acordo de livre-comércio entre os dois blocos.
De acordo com Macron — em resposta a Lula —, uma flexibilização de tarifas prejudicaria os produtores ses porque, segundo ele, um dos principais imes é a diferença de regulamentação para o uso de agrotóxicos entre os países do bloco e da UE. "Como vou explicar aos agricultores que exijo que respeitem as normas, mas abro o mercado para produtos que não as respeitam?", disse. Segundo ele, o texto atual do acordo abre margem para haver uma importação desenfreada — de produtos do Mercosul — e deixaria os agricultores sem mercado.
O acordo de livre-comércio Mercosul-UE ainda propõe questões relevantes aos dois blocos, como a redução de tarifas comerciais de importação, ganhos de produção e facilitação de investimentos. No âmbito das vantagens comparativas, facilitaria tanto as entradas de produtos industriais e agrícolas da UE nos países do Mercosul e vice-versa.
Multilateralismo
Lia Valls, chefe do Departamento de Análise Econômica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), destacou que o acordo Mercosul-UE é prioridade na agenda internacional de Lula, sobretudo, pelo fato de apresentar uma mensagem de multilateralismo em meio ao protecionismo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deflagrou uma guerra tarifária global.
"Nesse mundo em que países estão se protegendo, como os EUA, e se fragmentando, esse acordo mostra que é possível dois blocos importantes se cooperarem", explicou. Ela ressaltou que o Brasil é um grande defensor do multilateralismo e protagonista em agendas internacionais, como o G20 (grupo das 19 maiores economias emergentes e desenvolvidas do planeta mais a UE) e a Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 30.
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Segundo a acadêmica, o tratado oferece "ganhos na área agrícola", principalmente para o Brasil. Além disso, proporcionará o a bens de capital e insumos mais baratos ao Mercosul. "O acordo também tem potencial para incentivar investimentos europeus no Brasil", disse.
Para Welber Barral, sócio da BMJ Consultoria, o acordo será o tratado "mais importante que o Mercosul pode ". Segundo ele, um aumento da exportação de produtos brasileiros à UE garantiria "o a um mercado de alta renda com mercado , de produtos ". "Isso pode impulsionar o setor agrícola do Mercosul, que é muito competitivo", afirmou. E, para a indústria brasileira, Barral também avalia que o acordo é "muito positivo", porque trata-se de uma "oportunidade muito grande de atrair investimentos e de permitir a integração de cadeias produtivas".
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