
Com a pressão internacional aumentando após a detecção de um foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul, o Brasil corre contra o tempo para conter os efeitos sanitários e econômicos do surto. Os governos federal, estadual e municipal, em parceria com produtores e entidades, intensificaram as ações de contenção à disseminação da gripe aviária — Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) — e preservar a imagem do país como um dos maiores exportadores mundiais de proteína animal.
Os empresários do setor ainda calculam o tamanho do prejuízo, e já se reuniram com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, para apresentar as providência e pedir apoio.
No município de Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foram montadas sete barreiras sanitárias no esforço de isolar o foco identificado, impedindo o avanço do vírus para outras regiões.
Ao Correio, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disse que as medidas seguem os protocolos internacionais e nacionais. “As providências vão desde o reforço da biosseguridade das granjas até planos alternativos de vendas”, disse. “As barreiras sanitárias fazem parte dos protocolos do plano nacional de sanidade, conduzido pelo Ministério da Agricultura e em colaboração com a Secretaria da Agricultura do Estado.”
Por ora, Santin disse que não é possível calcular os prejuízos, embora sejam verificados impactos diretos e danosos, como a suspensão temporária de importações da China, da União Europeia, do México, da Argentina, do Chile e do Uruguai. “Haverá, sim, algumas diminuições de fluxo de logística. Muitos mercados suspendem, mas outros permanecem abertos. Há o chamado redirecionamento de produtos”, observou. Segundo ele, o acordo sanitário internacional permite a continuidade das exportações de áreas livres da doença fora do raio de 10 quilômetros do foco.
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Reunindo 140 empresas, entre elas a JBS, a ABPA articula alternativas para escoar a produção, com estratégias que incluem o armazenamento temporário e a venda para mercados que seguem abertos, como outros países da Ásia e da África. “As providências vão desde o reforço da biosseguridade das granjas até planos alternativos de vendas”, completou Santin, que também ressaltou o apoio direto do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no enfrentamento do surto.
Sob controle
No Vaticano para a cerimônia de entronização do papa Leão XIV, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, demonstrou otimismo e crê que, em breve, o ime seja solucionado. “O surto está sob controle, ao município do Rio Grande do Sul, e todas as medidas foram tomadas pelo Mapa para conter o vírus”, afirmou. Ele reiterou também que o governo brasileiro cumpre rigorosamente os protocolos sanitários internacionais, permanecendo como referência global em segurança sanitária animal e vegetal.
Mesmo com as garantias oficiais, especialistas alertam para a necessidade de vigilância máxima e comunicação eficaz com os mercados internacionais. A manutenção da confiança dos parceiros comerciais depende da eficácia das medidas de contenção e da transparência na condução da crise. No Rio Grande do Sul, a recomendação é seguida à risca nas sete barreiras instaladas. As estruturas estão distribuídas em pontos estratégicos: duas na BR-386, uma ao norte na RS-124, uma na TF-10, no sentido do município de Triunfo, e outras três em estradas vicinais que dão o à zona rural.
*Colaborou Renata Giraldi
Ovos serão destruídos em 3 estados
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou nesta semana que ovos oriundos da granja de Montenegro (RS), que registrou um caso isolado de gripe aviária, foram identificados em três estados brasileiros e estão sendo destruídos como medida de precaução. A ação faz parte do plano nacional de contingência contra a influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1), cujo primeiro caso em granjas comerciais foi confirmado na última sexta-feira (18/5).
Segundo a pasta, os ovos foram rastreados e localizados no próprio Rio Grande do Sul, além do Paraná e de Minas Gerais. A medida tem como objetivo “mitigar qualquer risco” de proliferação do vírus, embora não haja indícios de que os produtos estejam contaminados. “Todas as medidas necessárias para a proteção da avicultura nacional estão sendo adotadas, reforçando o compromisso do Mapa com a sociedade e com o setor produtivo”, diz a nota oficial divulgada pelo ministério.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Agricultura informou que já descartou 450 toneladas de ovos férteis provenientes do Rio Grande do Sul. Os produtos não eram destinados ao consumo direto, mas sim à incubação para produção de aves. A possibilidade de novos descartes não está descartada, segundo o governo mineiro. A estratégia segue o mesmo protocolo aplicado em 2023, quando focos da doença de Newcastle também demandaram a eliminação preventiva de produtos avícolas para evitar riscos sanitários.
Em alerta
O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, e a ocorrência de surtos de gripe aviária em granjas comerciais acende um alerta para o setor. Embora o caso em Montenegro tenha sido classificado como isolado, autoridades e produtores monitoram de perto a situação para evitar impactos econômicos e preservar a credibilidade internacional do país como fornecedor.
O Mapa reiterou que segue em constante vigilância e que o consumo de carne de frango e ovos segue seguro. A gripe aviária não é transmitida por alimentos devidamente preparados, e o risco à saúde humana permanece baixo, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que é, como evitar e o que fazer
O que é a gripe aviária?
Ela é provocada pelo vírus da influenza aviária, que afeta principalmente as aves, embora, em situações raras, possa infectar seres humanos. Esses vírus têm afinidade por açúcares específicos presentes nas células das aves, chamados ácidos siálicos. Nos humanos, as infecções são incomuns e, na maioria das vezes, resultam do contato direto com aves contaminadas.
Em que região do Brasil ela apareceu?
O foco de gripe aviária foi registrado em Montenegro, no Vale do Caí (RS), após confirmação do Ministério da Agricultura e Pecuária. Os vírus foram constatados em uma granja avícola de reprodução e em aves silvestres de um zoológico de Sapucaia do Sul.
Qual o impacto econômico?
A suspensão das exportações pode gerar perdas mensais de até 20% no volume embarcado, segundo estimativas do setor. O Ministério da Agricultura determinou o abate sanitário das aves da granja afetada e intensificou a vigilância em um raio de 10 km ao redor do foco.
Humanos podem contrair?
Sim, embora seja raro. Os casos documentados de transmissão para humanos ocorreram quase sempre por meio do contato direto com aves infectadas. A transmissão pelo ar é possível, especialmente em locais com grande acúmulo de poeira e penas, como em granjas. Os grupos mais vulneráveis são trabalhadores rurais que lidam com aves ou vacas; e pessoas que mantêm aves em quintais domésticos.
Como o vírus é transmitido?
Aves infectadas liberam o vírus por meio da saliva, muco e fezes. O patógeno pode se dispersar pelo ar quando a cama e as penas são movimentadas dentro dos galpões. Em vacas leiteiras, o vírus pode estar presente em altas concentrações no leite cru.
Quem suspendeu as exportações até agora?
O setor avícola está tendo suspensões temporárias das importações de carne de frango por parte do Chile, Uruguai, México, Argentina, China e União Europeia. A medida foi tomada após a confirmação do primeiro caso em Montenegro.
Como prevenir a gripe aviária em humanos?
Evitar o contato com aves doentes ou mortas; usar equipamentos de proteção (óculos, luvas, máscara N95, macacão e botas) ao lidar com aves; consumir apenas
leite e ovos pasteurizados; cozinhar completamente as carnes de aves.
Como identificar a gripe aviária?
Para saber se seus animais têm gripe aviária, observe sintomas como: dificuldade respiratória, falta de apetite, letargia, secreção nasal ou ocular, espirros, incoordenação motora, torcicolo, diarreia ou alta mortalidade. Se você suspeitar da contaminação, é fundamental entrar em contato com um veterinário ou com as autoridades locais de saúde para realizar o diagnóstico e tomar as medidas necessárias.