Comércio Exterior

Como trégua entre EUA e China deve impactar o Brasil? Especialistas explicam

Suspensão parcial de tarifas reconfigura mercado global e exige atenção de exportadores brasileiros

A trégua entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados: as bolsas globais operaram em alta e o dólar avançou -  (crédito: crédito: Divulgação/Semtran RJ)
A trégua entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados: as bolsas globais operaram em alta e o dólar avançou - (crédito: crédito: Divulgação/Semtran RJ)

Os Estados Unidos e a China anunciaram nesta segunda-feira (12/5) um acordo para suspender, por 90 dias, parte das tarifas impostas um ao outro no contexto da guerra comercial que se intensificou desde abril. A trégua entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados: as bolsas globais operaram em alta e o dólar avançou.

Segundo o acordo, os EUA reduzirão de 145% para 30% as tarifas sobre produtos chineses até o dia 14 de maio. Em contrapartida, a China diminuirá de 125% para 10% os impostos sobre importações americanas. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que há possibilidade de a trégua ser prorrogada, a depender do andamento das negociações.

Desde que retornou à presidência para um terceiro mandato, Donald Trump ampliou significativamente as tarifas sobre produtos estrangeiros, atingindo não apenas a China, mas também países de todos os continentes. A medida foi justificada por uma estratégia de proteção à indústria nacional, mas gerou forte reação internacional — especialmente da China, que respondeu com elevação proporcional das tarifas sobre produtos americanos.

Impactos para o Brasil

Para César Bergo, professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB), diante do ime, o Brasil pode, inicialmente, colher benefícios da disputa entre os dois gigantes, principalmente no setor agropecuário. Em contrapartida, “a China, não exportando para os Estados Unidos, pode colocar os produtos aqui no Brasil. Isso acaba gerando uma enxurrada de produtos chineses, prejudicando o comércio e a indústria local”, afirma.

Bergo avalia que os setores agropecuários, como o de grãos e o de proteína animal, devem continuar sendo favorecidos, enquanto áreas como a siderurgia e o alumínio tendem a enfrentar maior pressão.

Na visão do economista Marcos Hanna, o anúncio da trégua traz alívio para o mercado global, mas também reconfigura a competição internacional. “A China é uma grande consumidora de soja e, com essa relação entre os dois países amenizando, os Estados Unidos volta a ser um relevante exportador. O Brasil continua ocupando uma posição central, mas agora em um cenário de maior competição”, explicou.

  • Leia também: Depois da Rússia, Lula quer maior aproximação comercial com a China

Hanna acredita que a medida tem efeitos positivos para o cenário macroeconômico global ao favorecer o Brasil e outros países com mercados e transações internacionais mais eficientes. Ele destaca que isso tende a reduzir o desemprego, aumentar a produtividade e gerar benefícios para a população de forma geral.

Com a trégua de 90 dias, Bergo acredita que o cenário tende a se estabilizar. “Essa trégua já era esperada. Isso pode, de alguma forma, dar um momento de tranquilidade para o mercado, mas tem prazo de validade”, avalia.

Ainda segundo Bergo, ele acredita que as exportações brasileiras para os Estados Unidos não devem apresentar queda, já que são majoritariamente compostas por commodities, como produtos agrícolas, petróleo e itens ligados à tecnologia. Ele ressalta que os exportadores brasileiros devem estar atentos e preparados para eventuais mudanças no cenário internacional.

Hanna reforça a importância de acompanhar os desdobramentos do acordo. “Os dois países, ao longo desses 90 dias, devem dar sinalizações se pretendem evoluir positivamente com as conversas ou se pretendem escalar novamente essa guerra. [...] Tudo indica que as negociações devem sim ir pelo caminho mais positivo, porque é do interesse de ambos os países e de todos os países do mundo”.

*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes

 

FG
postado em 12/05/2025 21:30
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