
"O antideus pensa que é Deus", destaca um dos personagens do mais recente e latente sucesso capaz de emendar o potencial inabalável da porção ator e produtor ostentada por Tom Cruise. Missão: Impossível — O acerto final chega aos cinemas com um personagem que encerra conceitos de inteligência artificial ilimitada — daí a associação direta a "um antideus". Um mundo escravizado ou completamente destruído ameaça ser cantado na trama comandada pelo diretor Christopher McQuarrie, que volta ao quarto filme da saga (totalizada em oito filmes). Ao estimado custo de US$ 350 milhões, considerado um dos mais caros já feitos, o novo Missão: Impossível coroa a dedicação por quase 35 anos do agente Ethan Hunt para a chamada IMF (Impossible Missions Force).
Acuado pela atividade de uma "entidade digital", fator de paranoia em escala mundial, Ethan "que nunca decepcionou", dá sequência a fatos do filme anterior, apresentado há dois anos. O mesmo corroteirista Erik Jendresen segue com McQuarrie na lida com a história mirabolante que envolve aviões, as misteriosas coordenadas de localização do submarino russo Sevastopol e um esconderijo na Ilha de São Mateus (delimitada pelo Mar de Bering). Costurando toda a chacoalhada no cenário global (que pode ocasionar a Terceira Guerra), Ethan se vê como joguete de manobras físicas e psicológicas.
Em recente entrevista ao The Hollywood Reporter, Tom Cruise agradeceu à excepcionalidade da vida, em que houve "diversos níveis de recompensa", advindos das equipes com as quais colaborou e ainda às "culturas" nas quais se mesclou. Ele celebrou tudo o que aprendeu "e continua a aprender sobre narrativa, sobre a vida, sobre liderança, sobre personagens e sobre todos os aspetos da produção em cinema".
Desde 2015, sob o comando de Christopher McQuarrie, a saga dos agentes especiais condenados "a viver e morrer nas sombras", já gerou, de lucro, mais de US$ 2 bilhões. Considerado um ponto baixo de bilheteria, o terceiro exemplar, o menos rentável, faturou US$ 400 milhões. Não por acaso, Cruise — que já destacou que M:I 8 é o definitivo, "e, não à toa, chamado de acerto final" — aproveitou a divulgação do longa para chegar centenário, "fazendo filmes".
Com ampla ajuda da equipe, que inclui Grace (Hayley Atwell), Luthier (Ving Rhames), Degas (Greg Tarzan Davis) e Benji (Simon Pegg) —, Ethan investirá todas as forças para deter os impulsos do inescrupuloso Gabriel (Esai Morales), que tem à mão complexos dispositivos, indiretamente ligados ao controle sobre empreendimentos nucleares globais. Para Ethan Hunt, a presidenta Erika Sloane (Angela Bassett) assegura a custódia de porta-aviões cujo investimentos chegam à cifra dos de US$ 6,5 bilhões.
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Uma arca com todo conhecimento do mundo corre risco no enredo do novo filme, em que personagens trazem blefes, lidam com dentes postiços (com armas letais) e manejam a temporária mudança de liderança, quando Benji assume protagonismo. Aos milhões de litros, 8,5 milhões, como precisou matéria da prestigiosa Empire; um tanque que simular o mar vira a atração mais comentada nos bastidores da nova ação de Cruise. Como destaca a reportagem, antes de cada episódio de hipoxia (ausência de oxigênio no tecido corporal), o astro filmava sequências por dez minutos. “Respiro o meu próprio dióxido de carbono”, relatou Cruise, à época das filmagens. A condição da escassez de oxigênio, obviamente afetava os músculos de Cruise. “É preciso superar tudo isso, e estar presente”, observou à publicação do Reino Unido.
Crítica // Missão: Impossível — O acerto final ★★★★
Até a proteção da Medalha de São Cristóvão, para além de todos os apetrechos técnicos, servirá de guia para a nova (e impactante) aventura de Tom Cruise, mais precisamente do agente Ethan Hunt, seu personagem no derradeiro filme para a franquia conduzida por Christopher McQuarrie. A ameaça estará em todo o lugar, na forma de uma entidade digital, que só poderá detida por meio de uma "toxina digital" e dos milimétricos cortes em fios de detonadores de bombas.
Encapsular o mal, num drive de computador, tal qual o aprisionamento de um gênio da lâmpada, está na meta de Ethan e de seu grupo (que alinhará figuras como Kitteridge, feito por Henry Czerny; Neely, papel de Hannah Waddingham e Paris, a agitada Pom Klementieff), todos habitantes de um mundo com países vulneráveis, à exceção de Reino Unido, China, Rússia e Estados Unidos, salvaguardados, inicialmente, de terrorismo nuclear. Nada está escrito para os personagens, o que os aprisiona em destino cuja imprevisibilidade faz com que tudo saia diferente do cenário planejado pelo protagonista.
Num mundo em que é decretado que a "verdade desapareceu", e que guerras são iminentes, Hunt terá que se desdobrar em ações pelo Norte do Pacífico, pela África do Sul e por vivência trágica dos antigos eventos em Praga. Os atores Hayley Atwell (à frente de Grace) e Ving Rhames, o Luthier da trama, tem potente destaque.
Com olhos lacrimejantes, Cruise se despede de uma obra que atravessou quase 30 anos, reativado um ado que tem um quê de Vingadores: Ultimato. No desvencilhar de situações de latente xeque-mate, junto com uns sermões previsíveis, o astro protagoniza dois momentos antológicos: um subaquático, que remete, de imediato, ao estilo de cena desafiadora como Titanic (1997) e outro, aéreo, ao bom estilo de Intriga internacional (1959).