Lorde está se transformando e quer que o mundo saiba disso, mesmo que não caiba em uma definição simples. Na capa da edição de junho da Rolling Stone, a artista neozelandesa falou abertamente sobre a maneira como sua percepção de gênero tem se expandido nos últimos tempos.
Para ela, essa jornada não é radical, mas sim íntima, complexa e essencialmente libertadora.
“Esse processo de expansão cresceu quando dei mais espaço ao meu corpo”, disse a cantora, que lançará seu novo disco, Virgin, em 27 de junho. O álbum promete explorar essas questões de forma poética, sensível e provocativa como tudo o que Lorde costuma entregar.
Ao ser questionada sobre como se identifica atualmente, a resposta foi menos um rótulo e mais um convite à reflexão: “Estou no meio, em termos de gênero”. Com isso, ela explica que se sente mais confortável vivendo a fluidez da própria expressão. “Sou uma mulher, exceto nos dias em que sou um homem”, declarou, num tom que mistura honestidade com uma pitada de ironia. E completou:
“Eu sei que não é uma resposta muito satisfatória, mas tem uma parte de mim que resiste muito a colocar isso dentro de uma caixinha”.
Ao longo da entrevista, Lorde demonstra um cuidado notável ao abordar temas tão íntimos. Ela não tenta se posicionar como símbolo de uma luta que não é sua. “Quero deixar muito claro que não estou tentando ocupar o espaço de ninguém que tem mais coisas em jogo do que eu”, afirmou.
“Porque eu estou, comparativamente, em um lugar muito seguro como uma mulher cis, branca e rica.”
Essa consciência de seus privilégios, somada à disposição em compartilhar sua vivência de forma honesta, traz profundidade à conversa. Um exemplo disso está na forma como ela descreve o impacto da cantora Chappell Roan em seu processo de autoconhecimento.
“Ela me perguntou: ‘Então, você é não binária agora?’ E eu respondi: ‘Sou uma mulher, exceto nos dias em que sou um homem’.” Essa troca, aparentemente casual, acabou sendo um gatilho de autocompreensão para Lorde.
Mais do que tentar nomear o que sente, ela parece estar interessada em viver essa fluidez com abertura e gentileza consigo mesma e com os outros. Uma postura rara no mundo das celebridades, onde tantas vezes a performance pública é moldada pela necessidade de ser compreendido com precisão e rapidez.
Lorde: Rompendo com velhos símbolos da feminilidade
Outra mudança significativa em sua vida foi a decisão de parar de tomar anticoncepcionais. Segundo ela, esse gesto teve um efeito simbólico poderoso. “Senti vontade de parar de tomá-los, tinha cortado uma espécie de cordão entre mim e essa feminilidade regulada”, afirmou.
“Parece loucura, mas senti que, de repente, eu estava fora do mapa da feminilidade. E acreditei totalmente que isso permitiu que as coisas se abrissem.”
Lorde enxerga o corpo como um território em constante transformação não algo a ser controlado, mas vivido. É essa mesma filosofia que parece nortear sua nova fase artística. Virgin não será apenas um disco sobre descobertas internas, mas também um manifesto sutil sobre liberdade, limites e identidade.
A artista que conquistou o mundo ainda adolescente mostra, agora, que está disposta a desbravar novos caminhos mesmo que eles não tenham nome.