
Excesso de velocidade e embriaguez são as causas da maioria dos acidentes no Lago Paranoá. Segundo o Corpo de Bombeiros (CBMDF), o consumo de bebidas alcoólicas está presente em aproximadamente 80% dos casos. A segurança na região voltou ao debate após dois adolescentes serem atropelados por uma moto aquática no espelho d'água, em 23 de fevereiro. O impacto deixou um dos jovens, de 12 anos, ferido na cabeça. O caso foi registrado por câmeras de vigilância, mas as imagens só foram divulgadas na segunda-feira, pela Associação Brasiliense de Kitesurfe (Abrakite).
O acidente levantou questionamentos sobre a fiscalização da navegação no Lago Paranoá e o cumprimento das normas de segurança pelos frequentadores. O Correio conversou com o capitão Ramón Lauton, chefe da Seção de Salvamento Aquático do Corpo de Bombeiros (CBMDF). Ele destacou que o excesso de velocidade e a imprudência são problemas recorrentes. "As pessoas enxergam o lago como uma via livre, sem regras. Isso aumenta muito o risco de acidentes", disse. Embora colisões entre motos aquáticas e pedalinhos sejam raras, são frequentes os atendimentos de motos aquáticas colidindo com banhistas ou outras embarcações maiores.
O capitão destacou as normas estabelecidas pela Marinha para a circulação de embarcações. "Em áreas de banhistas e até 200 metros da margem, a velocidade máxima permitida é de três nós, o que equivale a menos de 10 km/h." Lauton também deu dicas importantes aos visitantes do lago. "Sempre utilizem coletes salva-vidas, evitem o consumo de álcool e estejam atentos às crianças. Além disso, quem pilota deve ter responsabilidade e respeitar as regras", orientou. Ele reforçou a importância de acionar os bombeiros em situações de emergência. "Ligue para o 193 imediatamente. Nossa equipe de mergulhadores está disponível 24 horas", finalizou.
Riscos
O vendedor de seguros Júlio César, 32 anos, lá ou por situações de risco no Lago Paranoá. "Caí de lancha aqui. Estava em pé, dançando, quando o barco avançou e fui para trás", disse. Para ele, a convivência entre pilotos e banhistas não é ideal. "Quem está na água circula livremente, mas, às vezes, vai para o meio dos barcos. Se uma lancha atravessar, pode atropelar alguém", explicou.
O radialista Espedito Moreira, 63, acredita que a segurança no local precisa ser reforçada para evitar acidentes. Morador de Novo Gama, ele ressaltou que um grave problema na região é o consumo de bebida alcoólica por banhistas e condutores de embarcações. "Sempre ouço casos de gente que bebe e vai direto para a água", comentou. Para Moreira, são necessárias mais campanhas de conscientização para alertar os visitantes.
O instrutor de canoagem Leonardo Siqueira da Silva, 36, trabalha no Lago Paranoá há cinco anos e conta que presenciou situações de risco envolvendo pilotos. "De vez em quando, aparece um pessoal mais imprudente. Eles am em alta velocidade. Quando algum de nós (instrutores) reclama, respondem com 'fica quieto, que você não é fiscal'. A água parece um espaço aberto, mas um acidente pode acontecer a qualquer momento e ser gravíssimo", alertou.
Investigação
A Polícia Civil (PCDF) ouviu o piloto da moto aquática que atropelou os dois adolescentes. Em depoimento, Eduardo Moraes alegou ter sido ofuscado pelo sol e afirmou que tentou socorrer as vítimas, mas foi dispensado pelos familiares das crianças. O pai de uma das vítimas, Rodrigo Cruz, 44, contestou parte dessa versão e informou que o piloto estava a mais de 80 km/h. "Ele disse estar pilotando uma moto aquática na mesma direção do outro condutor e negou que o sol estivesse tão forte. Segundo relatou, o pai acreditava que o rapaz faria uma manobra para assustar as crianças, e não que as atingiria", esclareceu o delegado Bruno Dias, da 5ª DP (Área Central), que investiga o caso.
A Marinha apreendeu o veículo e também conduz uma investigação. Um dos principais pontos a serem esclarecidos é se Moraes possui habilitação para pilotar. O caso é tratado pela Polícia Civil como lesão corporal, cuja pena — que varia de acordo com a gravidade da lesão e as circunstâncias do crime — pode chegar a três anos de prisão. "Aguardamos o laudo pericial para mais definições", explicou Dias. Segundo ele, não há informações no inquérito se o condutor do jet-ski foi submetido ao teste do bafômetro após o acidente.
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