Estamos diante de uma inteligência que, pela primeira vez na história, tira posição de trabalho de pessoas qualificadas. Não há muito o que ser feito nesse sentido. Quanto mais aprimoradas as IAs se tornam, mais espaço de trabalho de pessoas qualificadas elas tiram. Via prompt (texto ou símbolo que indica que um sistema está pronto para receber uma entrada ou uma instrução), é possível gerar inúmeras opções de logomarcas, por exemplo. No ado, seriam contratados designers gráficos. Lembro que tecnologia não pede licença, tecnologia se impõe.
Desde 2023, o Ministério da Educação (MEC) instituiu que todas as redes de ensino da Educação Básica tenham seus currículos adaptados com habilidades relacionadas à computação, inserindo disciplinas como mundo digital e pensamento lógico e computacional. O objetivo é preparar a sociedade do amanhã, incentivando-a a utilizar essas ferramentas de forma crítica.
Estamos em um estágio no qual os usuários entregam aos algoritmos pensamentos básicos, como "como sair de casa e ir até o shopping tal?". A pessoa sabe o caminho, mas quando ela coloca isso em uma ferramenta de IA, deixa de exercitar o próprio pensamento. Essas pequenas e micro atividades, de forma conjugada, são responsáveis por construir o raciocínio humano.
É preciso conscientização sobre os limites de uso, visto que, inevitavelmente, os algoritmos se aproximarão, cada vez mais, de uma cognição semelhante à humana, com capacidade de engenhosidade e de resolver múltiplos problemas. Precisamos refletir sobre o que chamamos de pós-humanidade e do que estamos deixando a cargo das IAs.
Frank Ned Santa Cruz de Oliveira é professor do Departamento de Ciência da Computação (CIC), da UnB, especialista em direito digital, mestre em gestão de risco e inteligência artificial e doutorando em filosofia da mente