postado em 26/01/2020 06:00
Edita Grosman, 95 anos, chegou ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em 1942, no primeiro trem lotado de judeus. Em 27 de janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho soviético ultraou o portal com a famigerada frase Arbeit macht frei (“O trabalho liberta”, em alemão), ela tinha sido levada pelos nazistas para a chamada “marcha da morte” e somente conseguiu a libertação em maio daquele ano. Os nomes de Edita e de 1,3 milhão de prisioneiros foram deixados do lado de fora de Auschwitz e trocados por números tatuados na pele. Edita era identificada como a prisioneira 1970. Mais de 1,1 milhão de judeus morreram no complexo, inclusive a irmã, Lea (a número 1969), que agonizou, doente, no Bloco 22.
Setenta e cinco anos depois da libertação de Auschwitz pelos soviéticos, Edita lamentou ao Correio o fato de o nazismo ainda ser adotado como ideologia. “Eu pensava que, quando o Holocausto terminasse, o paraíso começaria. Não foi o que ocorreu. Eu amo pessoas. Mas, como elas podem fazer coisas tão ruins às outras? Você pode odiar o próximo, mas não matá-lo. A guerra e o ódio não servem a ninguém!“, desabafou.
A idade e a frágil saúde impediram Edita de embarcar em Toronto (Canadá), onde vive, rumo a Oswiecim (Polônia) para as cerimônias alusivas ao aniversário da libertação de Auschwitz. “Eu pretendia ir com minha neta, mas não tenho me sentido muito bem e minha família não quer que eu vá. Não consigo dobrar meu joelho desde os 21 anos, após uma tuberculose contraída em Auschwitz. Eu deveria estar lá e falar ao mundo, pois estive em Auschwitz do início ao fim. Não fui libertada 75 anos atrás, pois fui levada a uma marcha da morte, onde muitas garotas pereceram. Tivemos de pisar sobre os corpos de nossas amigas, que desmaiaram e foram fuziladas. Só estou aqui porque fui ajudada por outros prisoneiros. O pior de tudo é saber que, depois de três anos em Auschwitz, muitos caíram na marcha da morte.“
Aos 90 anos, o húngaro Gábor Hirsch era o preso de número B-14781 em Auschwitz. Ele contou ao Correio que, em oito semanas, 137 trens com 437 mil judeus chegaram ao campo a partir da Hungria. Cerca de 80% dos judeus húngaros foram considerados inaptos ao trabalho e executados. Morador de Zurique, Hirsch acredita que o extermínio de judeus possa servir de lição para a humanidade. “O Holocausto deveria ser lembrado, primordialmente, não por causa do ado, mas como exemplo de até onde vai a exclusão em seu extremo de raças e religiões. É uma forma de evitar isso no futuro“, disse.
Pressentimento
Hirsch itiu à reportagem que tem um “mau pressentimento” quando lê sobre partidos neonazistas surgindo em diferentes países. “Parece que alguns não aprenderam com o ado, e isso é perturbador”, comentou. “Mas os neonazistas são uma minoria e espero que eles desapareçam com o tempo. Em vez de proibir essa ideologia, deveríamos combatê-la com educação nas escolas, nas igrejas e nas publicações. Deveríamos mostrar para onde as exclusões nos levaram no ado”, acrescentou Hirsch.
Aos 93 anos, a escritora romena Magda Mozes Herzberger sobreviveu a três campos de concentração nazista: Auschwitz-Birkenau, onde chegou aos 18 anos e ficou por seis semanas; Bremen e Bergen Belsen. “Ainda escuto o choro de morte dos meus companheiros de sofrimento. As sombras das câmaras de gás, os fornos crematórios e as covas coletivas ainda me assombram. As imagens de ossos carbonizados e secos das vítimas inocentes ficaram impressas em minha memória”, relatou ao Correio.
Ela também perdeu muitos familiares em Auschwitz-Birkenau, incluindo o pai e o tio predileto. “Será que algum dia vou me recuperar completamente das feridas infligidas a mim? Será que vou parar de lamentar os membros assassinados de minha família? E o sofrimento e a morte de 6 de milhões de judeus, como eu">Estive envolvido em mais de 40 casos, nos quais ações legais foram tomadas ou, pelo menos, os criminosos foram expostos publicamente. O mais importante criminoso que ajudei a levar à Justiça foi Dinko Sakic, um dos comandantes do notório campo de concentração croata Jasenoac, onde 100 mil sérvios, judeus, ciganos e croatas antifascismo foram assassinados pelos Ustasha (os fascistas croatas).
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